Não é permitido utilizar imagens deste face sem autorização do proprietário.

sábado, 14 de agosto de 2010

Visite outros blogs

http://poesiasparamosqueiro.blogspot.com
http://moqueio.blogspot.com
http://chalesdemosqueiro.blogspot.com
http://centenáriodemosqueiro.blogspot.com
http://sãocristovãoemmosqueiro.blogspot.com
http://mosqueirojunino.blogspot.com
http://veraneioemmosqueiro.blogspot.com
http://pontebelémmosqueiro.blogspot.com
http://praiasdemosqueiro.blogspot.com
http://imagensdemosqueiro.blogspot.com
http://carnavalemmosqueiro.blogspot.com
http://emancipaçãodemosqueiro.blogspot.com
http://ciriosdemosqueiro.blogspot.com
http://mosqueirense.blogspot.com
http://igrejasdemosqueiro.blogspot.com
http://veraneandoemmosqueiro.blogspot.com
http://mosqueiroilhasevilas.blogspot.com
Canto do Sabiá
Foto: JCSOliveira

Mosqueiro

Flor da águas foi essa expressão que o geógrafo e estudioso da Amazônia, Eidorfe Moreira, encontrou para denominar Belém, Capital do Estado do Pará e primeira cidade a ser fundada na Amazônia. Para ele não é exagero dizer que nenhuma outra cidade do Brasil se mostra tão portentosa e interessante sob o ponto de vista hidrográfico. A água figura aí como peça fisiográfica e como elemento cênico, como moldura e como agente modelador. Podemos dizer que é um privilégio uma cidade possuir em seu território tantas ilhas, baías, rios, igarapés e praias. E é certamente o Arquipélago de Mosqueiro, o maior de todos, o que mais expressa o caráter de uma cidade constantemente penetrada e fecundada pelas águas amazônicas. Localizado no golfo guajarino, integrante de um maior denominado golfão marajoara, o arquipélago do Mosqueiro é composto por trinta e cinco ilhas, segundo estudos da Companhia de Desenvolvimento Metropolitano de Belém (CODEM). Seu território possui uma área que corresponde à região continental de Belém, cerca de 220 km², o equivalente a 27 mil campos de futebol. Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sua população residente gira em torno de 30.000 hab. Por ser tratar de importante balneário, em períodos de férias escolares sua população chega a alcançar 400.000 pessoas. A história de Mosqueiro se confunde com a história da colonização da Amazônia, particularmente do Estado do Pará e de sua capital. É a história de um Arquipélago singular, localizado na fantástica foz do rio Amazonas que vem encantando os viajantes durante séculos.

A verificação de mapas do século XVII, produzidos pelos primeiros navegadores europeus a visitar a região, aponta para dois aspectos interessantes do ponto de vista histórico para o Arquipélago do Mosqueiro. O primeiro é a denominação de Ilha de Santo Antônio e o segundo é o fato da região ser conhecida como a Província dos Tupinambás. Habitantes do estuário amazônico, os tupinambás estavam na região à cerca de 12.000 anos e constituíram uma civilização e uma cultura intimamente ligadas à natureza. A partir disso elaboraram tecnologias, teologias, sociedades que nasceram e experimentaram um modo de vida fortemente relacionado com a floresta, os rios, os minerais e as espécies da fauna e da flora. Em janeiro de 1500, o navegador espanhol Vicente lãnes Pinzón chega à costa norte brasileira e depara-se em meio a um grande mar de águas doces, turvas e esbranquiçadas, região que mais tarde ele irá denomina de "Santa Maria de la Mar Dulce". Encantado pelo formoso delta, Pinzón desembarcou na praia de uma aprazível ilha onde permaneceu o tempo necessário para continuar a viagem, assim, foi em uma ilha amazônica onde, pela primeira vez, um europeu colocou os pés em solo brasileiro. Fazendo parte deste maravilhoso arquipélago e guardando as suas belas praias com ondas de água doce, estava uma ilha que, futuramente, receberá o nome de Mosqueiro.

Em 1545, o explorador espanhol Francisco Orelhana, que já havia passado pelo delta do grande rio em 1542 e espalhado pelo velho mundo a notícia de haver encontrado guerreiras para as quais denominou de Amazonas, retorna à região. Partindo de Sevilha, Orelhana avista a terra reconhecendo o cabo de São Roque, percorrendo mais umas cem léguas, afastados doze da terra, os navegantes encontraram água doce, era o sinal que seu comandante buscava para saber que havia retornado ao delta do rio das amazonas. No da seguinte, chegaram a uma baía localizada entre duas ilhas abundantes de frutas e pescado. O historiador João Lúcio D'Azevedo, comentando este episódio, escreve "... no dia seguinte ao que penetraram no rio, deram fundo entre duas ilhas bastante povoadas: pode-se se supor fosse a baía do Sol, perto das lhas do Colares e Mosqueiro. Na véspera, quase se perdem nos baixos: devia ser os de Bragança. Tudo isto a simples inspeção do mapa nos confirma". D'Azevedo também comenta, baseado no relato do frei Gaspar de Carvajal, que este dia era consagrado à Nossa Senhora do Ó, aquela que mais tarde tornar-se-ia padroeira de Mosqueiro. Partindo da baía de São Marcos, no dia 25 de dezembro de 1615, a expedição de Caldeira Castelo Branco tinha o propósito de avançar para o norte o processo Colonizador. Pós alguns dias de viagem, a expedição chega defronte da entrada da atual cidade da Vigia. Dando prosseguimento a sua viagem, os navegadores atravessam a baía do Sol e a ilha de mesmo nome, hoje conhecida como ilha de Colares. Em relato feito para o rei D. João V pelo funcionário da Coroa Bernardo Pereira Berredo, neste momento, deparam-se com uma região considerada o lugar mais apropriado para a conquista e povoação e "um dos mais agradáveis lugares desta Costa para fundar uma cidade" segundo o padre José de Morais, que acrescenta em seguida" a não serem seus mares tão inquietos que faziam dificultoso o desembarque das naus do reino e embarcações da terra, por ser açoutada toda aquela Costa das grandes maresias da tarde, algumas vezes com trovoadas". No dia seguinte, Caldeira subiu um pouco mais, assentando a nova povoação em uma península à direita do rio Guamá. Estava fundada Belém, em 12 de janeiro de 1616. A falta de precisão dos documentos relativos à expedição de Caldeira Castelo Branco não nos permite ter convicção de que o lugar ao qual se refere Berredo é Mosqueiro, todavia a descrição que o padre José de Morais faz da região, guarda enorme semelhança com a enseada da ilha voltada para a baía do Sol. Nos primeiros séculos de colonização portuguesa, o litoral era responsável pelo abastecimento do núcleo colonizador. Não demorou muito para os jesuítas instalarem na ilha de Mosqueiro a Missão Myribira que, juntamente com a Missão Topinambazes, na ilha de Colares e outras do mesmo gênero constituíam as Aldeias de Baixo. A estratégia desenvolvida pelos jesuítas foi fundamental para o sucesso do aparato colonizador em seus momentos iniciais. Administravam recursos que serviam para o pagamento de dotes para aqueles colonos que casassem com nativas da região. Através de suas aldeias garantiam a mão de obra necessária para a construção do núcleo urbano, bem como para a exploração das drogas do sertão. Ao ser nomeado pelo rei de Portugal, D. José I, como Secretário de Negócios Estrangeiros e de Guerra, o Marquês de Pombal inicia um processo de mudanças na política do governo português que resultam em grandes transformações na região. Em 1751, cria o Estado do Grão-Pará e Maranhão e transfere a sede do governo para Belém. Seu meio irmão Francisco Xavier Mendonça Furtado é nomeado governador. Furtado estabelece, em 1757, normas que instituíam o cargo de diretor de aldeia, nomeado pelo governador. Contrários às novas diretrizes do governo, os jesuítas são expulsos do Pará por ordem do Marquês de Pombal, em 1759.

No século XVIII, muitas pessoas requereram enormes áreas de terras em Mosqueiro, as léguas de "sesmarias" como era chamado o documento que doava as terras pertencentes à Província Imperial. Entre estes beneficiados estava o posseiro Padre Antônio Nunes da Silva a quem coube a doação das terras da Baía do Sol, em 06 de dezembro de 1746. Contando com a mão de obra de escravos africanos, seus herdeiros construíram sítios agrícolas como o Sítio Conceição, ainda preservado, e Sítio Santana cujas ruínas de sua casa grande encontra-se na propriedade do Hotel Paraíso. Na primeira metade do século XIX, o Pará vivenciou a revolta dos Cabanos, assim nomeada por fazer referência às habitações daqueles que formavam os maiores contingentes que integraram o movimento. Faziam parte do movimento camadas sociais desfavorecidas como caboclos, índios destribalizados e os negros libertos que moravam nas ilhas e regiões próximas a Belém, além de alguns fazendeiros e comerciantes inconformados com a política do presidente da província. No litoral de Mosqueiro, importante reduto Cabano, havia dois pontos artilhados; o da Vila, instalado nas barrancas da praia do Bispo, e o do Chapéu Virado, com artilharia montada nos penedos que ali existiam. Eram desses pontos que os Cabanos atingiam os navios que conduziam tropas, mantimentos, armas, munições e fardamento para o marechal Manuel Jorge Rodrigues na ilha de Tatuoca e para as tropas de Pernambuco que haviam aportado na ilha de Cotijuba. A resistência, instalada na ilha do Mosqueiro, enfrentou as forças legalistas, em 21 de janeiro de 1836, em plena praia do Chapéu Virado. Após horas de combate, vários mortos e feridos de ambos os lados e sem munição, os Cabanos saíram em retirada pelas matas e rios da região. Nas décadas seguintes à Cabanagem, Mosqueiro continuava com sítios agrícolas, concentrados em sua maioria no norte do Arquipélago, e um pequeno vilarejo ao sudoeste com suas casas localizadas, entre arvoredos, na beira da baía. Sua vinculação à Freguesia de Benfica na condição de Vila, fez com que este vilarejo viesse a dar origem ao bairro conhecido como Vila do Mosqueiro. Quando vice-presidente da Província do Pará, o Cônego Manoel José de Siqueira Mendes Sancionou a lei da Assembléia Provincial 563, de 10 de outubro de 1868, criando a Freguesia de Mosqueiro e extinguindo a de Joanes. Em seu artigo 1º lemos: "Fica criada na povoação de Mosqueiro uma freguesia sob a invocação de Nossa Senhora do Ó...". A igreja que havia na povoação e pertencia à Irmandade de Nossa Senhora do Ó foi indicada para matriz provisória e mandada avaliar para a devida indenização à irmandade, promovendo-se a sua conclusão pelo governo da Província, o mesmo ocorrendo com a obra do cemitério que ficava ao lado da capela e pertencia à mesma irmandade. D. Macedo era então o bispo do Pará e nessa qualidade designou em portaria de 02 de abril de 1869, para vigário da nova freguesia, o padre de cinqüenta e um anos, Manoel Antônio Rayol, que a aceitou e nela se radicou. O Século XIX chegava às suas últimas décadas, Mosqueiro deixaria de ser Freguesia e passaria para a condição de Vila de Belém em 06 d julho de 1895. A região começava a experimentar um novo ciclo econômico que traria grandes transformações. Para Mosqueiro estavam reservadas muitas surpresas.

A origem do nome "Mosqueiro"

A influência da cultura tupinambá deixou suas marcas em Mosqueiro, a começar pelo próprio nome. Alguns estudiosos, entre eles Meira Filho, atribuem o termo Mosqueiro a um processo de corruptela do termo Moquém ou Moqueio. Com o objetivo de conservar a carne da caça ou do pescado, os tupinambás utilizam o moqueio, técnica tradicional onde, sobre uma grelha feita com pau de tucumã e envolto na folha do guarumã, a carne fica exposta a um fumeiro feito com a lenha do muruciceiro ou do maraximbé. Nos primeiros séculos de colonização portuguesa, o litoral era responsável pelo abastecimento da cidade de Belém. Os tupinambás submissos, também conhecidos como tapuias eram encarregados desta tarefa. Como não possuíam a cultura do sal e não dispunham de tecnologias como a refrigeração, as praias de Mosqueiro, caminho obrigatório para quem chega em Belém, foram palco da prática intensiva do moqueio. Os colonizadores não conheciam o termo Moqueio, mas conheciam Mosqueiro, nome dado a algumas localidades de Portugal e Espanha, logo concluíram era a ponta dos Moqueios, a ponta da Musqueira, a ponta do Mosqueiro.

Um pedaço da Europa na Amazônia

Construídos para serem recantos paradisíacos de férias, os casarões Mosqueirenses são um marco na história paraense.

Na passagem do século XIX para o século XX a Europa seguia frenética o curso do desenvolvimento industrial. Em Belém do Pará, os barões da borracha pareciam respirar os mesmos ares europeus, proporcionando à capital paraense uma época de luxo, ostentação e busca pela modernidade. Outros centros urbanos da Amazônia também viveram esses períodos de progresso nos anos de apogeu da borracha, entre1880 e 1912. Mas, no Pará essa euforia trouxe desdobramentos para a ilha de Mosqueiro, conhecida, até então, por auxiliar no abastecimento de Belém. Os impactos em Mosqueiro chegaram nas bagagens dos europeus. Eles aportaram na Amazônia para trabalhar na urbanização de Belém e de outras capitais da região. De acordo com o historiador Augusto Meira Filho, autor do livro "Mosqueiro Ilhas e Vilas", esses estrangeiros descobriram rara beleza no arquipélago. O clima já exótico da região foi acentuado pela visão das praias de água doce. A ilha tornou-se o local predileto para os Lochard, os Ponted, os Smith, os Upton, os Kaulfuss, os Arouch, além de outras famílias. No princípio, elas utilizavam embarcações particulares para chegar à ilha e, posteriormente, com a implantação de uma linha regular de transporte fluvial, no começo do século XX, construíram residências para passarem os finais de semana. Famílias abastadas de Belém logo aderiram ao movimento.

Casarões – Nesse período, alguns proprietários de residências na orla construíram trapiches particulares. Assim surgiu a denominação "Porto-chalé", como o "Porto Artur" e "Porto Franco". As encomendas chegavam com mais conforto às residências. Os próprios pescadores da ilha iam vender peixes na porta das casas, antes mesmo de seguir para o mercado.


Para o professor da Universidade Federal do Pará – UFPA e arquiteto, Milton Monte, estudioso da arquitetura daquela região e apaixonado confesso pela ilha, os casarões da orla mosqueirense representam raros exemplares arquitetônicos. Os prédios foram construídos mesclando estilos europeus com a realidade climática local, tendo porões habitáveis ou não, feitos em função da salubridade e ventilação. Monte, que apresentou como trabalho de conclusão de curso em arquitetura uma tese sobre a edificação dessas casas em Mosqueiro, lembra que a construção de casarões por europeus aconteceu em vários pontos da Amazônia. Em Icoaraci, também distrito de Belém, há construções similares, como o chalé da família Cardoso. Milton, acreano e autor do projeto do pórtico da entrada de Mosqueiro, conta que, no estado onde nasceu, é possível identifica-las, mas em menos escala. Entretanto, para ele, isso não minimiza a importância histórica e arquitetônica das edificações na ilha. Apesar de terem sido construídas em outros pontos da região, a ilha é o local com maior número de casarões e, por isso, apresenta maior diversificação. Dessa forma, a arquitetura se torna singular entre estilos tão distintos. O chalé Canto do Sabiá, por exemplo, recebeu influência da arquitetura eclética alemã. Em outros casos, é mais difícil fazer essa identificação de estilos, como o chalé Porto Arthur. Apesar desse movimento de veraneio ter aumentado expressivamente com a chegada dos europeus à ilha, há quem defenda que na primeira metade do século XIX, o Pará apresentava propriedades rurais com características observadas nos casarões de Mosqueiro.

*Eduardo Brandão é escritor, pesquisador e professor da UFPA. Dedica-se há mais de 10 anos à pesquisa de ilhas próximas à Belém. A fonte deste texto é a edição inaugural da revista "Ilhas Amazônicas"/Janeiro 2006.

Disponível em:
http://www.istoeamazonia.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=107&Itemid=1